terça-feira, 1 de agosto de 2023

Aguarelas


Não sei há quanto tempo a minha caixa de aguarelas não via a luz do dia, ou melhor, a água e os pincéis. Há muito mais de um ano, pelo que me lembro, pois as últimas aguarelas foram pintadas antes de Julho do ano passado. 

Como é que sei que foi antes de Julho do ano passado? Porque há uma vida antes disso e outra depois. 

Mas nem tudo está perdido. As tintas não se estragam e hoje foi dia de lhes mostrar o papel.

Como é normal em mim, senti, primeiro, uma insegurança tremenda. Penso sempre que já não sou capaz, por isso procurei no Tik Tok - sim, eu sou fã desta rede!!! - por tutoriais de pinturas simples, que não me deixassem frustrada e com a sensação de derrota.

Encontrei a Andrea Nelson e literalmente, copiei os tutoriais ais simples que apareceram na sua página: uma fatia de melancia, um gelado e um botão de peónia. Pintei, cada uma delas, duas vezes.

Nos próximos dias espero conseguir continuar a treinar a pincelada e vou, de certeza, aventurar-me por outro tipo de desenhos.

O que acham destas?

sábado, 10 de junho de 2023

Não houve festa, mas houve bolo!


Aniversário que se preze tem de ter um bolo bonito, caso contrário é apenas um lanche. E lá está: não houve festa - que não ando nem com tempo, nem com paciência para isso - mas houve bolo e fotos bonitas.

Para os 18 precisava de umas fotos que não implicassem eu ter de gerir o equipamento. Além disso não tenho a extroversão suficiente para me por a tirar fotos sozinha num jardim ou num qualquer outro lugar. Assim, liguei à Mariana, em cujo trabalho confio e que já me fotografou noutras ocasiões e num contexto mais profissional, para ver qual a sua disponibilidade. Felizmente, no meio da sua ocupada agenda, arranjou um fim de tarde para o fazer.

Combinámos a hora e o local.


Fiz meia dúzia de props a combinar com a Alameda e um bolo que estava delicioso. A ideia das flores de cartolina fui buscá-la ao Pinterest e o bolo é um simples bolo de iogurte com um pequeno twist.

A receita? Here it is:

  • 150 g açúcar
  • 3 ovos grandes
  • 200 g farinha Branca de Neve (simplesmente porque há coisas das quais não abdico)
  • 1 c. chá de fermento p/ bolos
  • 120 g iogurte grego desnatado
  • 80 g óleo
  • 1 pitada de sal
  • raspa de duas limas
  • 1 c. de chá de cardamomo moído
  • 50 g de miolo de pistácio ligeiramente moído

Na Bimby: primeiros os líquidos (iogurte, ovos e óleo) e por cima os sólidos, excepto o miolo de pistácio. Programei 10 segundos na velocidade 6 et voilá! Perfeito! No final, com a ajuda de uma espátula, envolvi os pistácios.

Cozi-o em duas vezes, já que não tenho nenhuma cozinha industrial, durante cerca de 20 minutos a 180º. Depois de frio bastou cobrir e rechear com o creme de queijo e já no local onde fizemos as fotos, decorei-o com as flores de papel.

Para a cobertura e recheio:
250 g de queijo mascarpone
2 c de sopa de iogurte natural
sumo de uma lima
mel qb (a gosto - não medi, confesso...)
pistácio qb para polvilhar

Misturei tudo muito bem e deixei no frio até à hora de montar o bolo.

terça-feira, 6 de junho de 2023

O Pano p'ra Mangas atinge a maioridade!!!


O que dizer sobre esta provecta idade do Pano p'ra Mangas? Bolas, são muitos anos!!!!

Qual manta de retalhos, este blog é feito, essencialmente, de vivências. Todas boas. Algumas escondem lágrimas por baixo e muitas dores de crescimento.

O primeiro post foi publicado há, precisamente, dezoito anos. Como diz a minha irmã - partner in crime no blog e na vida - o Pano p'ra Mangas já pode tirar carta 😂 e eu acrescento: já vai para a universidade!

Em 2005 era estranho dizer-se que se tinha um blog. O que é isso?, perguntavam-nos. Para que serve? Isso é uma loja? E o que é preciso para ter um blog?  Com maior ou menor paciência, explicávamos tudo tim-tim-por-tim-tim. Muitas vezes as pessoas encolhiam os ombros e olhavam para nós com um ar de "Coitadinhas..." 😂, porém foi a perseverança que nunca nos deixou que fossemos essas coitadinhas que não sabem o que fazem.

Durante alguns anos metíamos o bedelho em tudo o que era feira. Saíamos de Faro de madrugada e antes das dez da manhã já estávamos a montar a banca no Príncipe Real ou na Lx Factory. Não éramos coitadinhas, mas tínhamos uma grande dose de loucura! À noite regressávamos a Faro. Ganhávamos alguma coisa? Feitas as contas, não! Ganhámos amizades que duram até hoje, rimos muito, conversávamos com os clientes - com os novos e com os que voltavam a cada feira - e com quem quer que se aproximasse de nós. Os nossos bestsellers eram feitos de feltro: gatos, piratas e sereias. Quem se lembra?

Passado algum tempo a minha irmã foi para Lisboa e mais tarde eu fui para longe. Sem máquina de costura, agarrei-me ao tricot, ao crochet, às aguarelas e à coisas mais portáteis. Partilhei aqui as minhas vivências de Londres, as lojas que descobria, os parques, os pequenos cafés onde tudo era bonito e diferente. Nessa altura já era só eu que estava ao leme, porém a minha irmã mantinha-se a bordo.

Fazíamos "reuniões de direcção" nas quais decidíamos o que fazer a seguir. Era tão giro! Era sério!

Há dez anos regressei à vila. O choque foi gigante. Em Londres ou em Lisboa não tinha de me esforçar muito para, do nada, criar conteúdo giro, especialmente no que toca a fotografia. Faro é uma cidade pequena e culturalmente pouco interessante - lamento, mas é verdade! - onde o rolo da máquina se esgota ao fim de uma dúzia de fotografias, a não ser que fotografe todas as pedras da calçada, over and over again.

Tive de me agarrar com unhas e dentes a tudo o que era trabalho que me aparecia e foi nesse rebuliço de pasmaceira que recuperei o diploma abandonado pouco depois de ter saído da universidade. Limpei-lhe o pó e ao longo destes anos tenho-lhe puxado o brilho com esmero, dedicação e esforço. Os meus alunos dizem, muitas vezes, que eu sei coisas diferentes - e talvez saiba, uma vez que ao longo da minha vida profissional tive de aprender a tocar vários instrumentos. Digo isto com orgulho e um pouco de vaidade. Ainda não posso descansar à sombra da bananeira, pois a minha bananeira ainda está longe de alcançar. As adversidades mostraram-me que não há mal nenhum em ser-se ambicioso - desde que não se atropele ninguém, a ambição é legítima e é um combustível que está dentro de nós.

O trabalho ocupa, desde há uns anos, a maior parte do meu tempo e daí o abandono do blog e do atelier onde costumava dar largas à imaginação.

Destes dezoito anos recordo muitos momentos bons, como o dia em que tivemos uma equipa de reportagem da RTP a filmar a rubrica "o dia que mudou a minha vida", o dia em que fui ao programa da Julia Pinheiro falar de doces algarvios e o Cláudio Ramos entendeu que devíamos falar de Elvas, de sericaia e de ameixas, a viagem a Barcelona com a Fujifilm/ Instax MIni, as vezes em que nos abordavam na rua como sendo as manas do Pano p'ra Mangas,...

E apesar de estar mais afastada do blog - porque a facilidade de publicar nas redes sociais é muito maior - ainda aqui venho de vez em quando ver se está tudo em ordem. Neste momento colho os frutos do que fui aqui plantando. Longe das luzes, que o meu palco é outro, junto do que me faz feliz e realizada.

Se estás comigo há dezoito anos: PARABÉNS! que esta maioridade também é tua. Se estás comigo há menos tempo: PARABÉNS! que sem ti eu não estaria aqui.

Do fundo do coração, OBRIGADA! ❤️ 

quarta-feira, 10 de maio de 2023

A Grécia à mesa


Assim que li o post de Lucrécia sobre um restaurante grego que fica ali para os lados da Basílica da Estrela tive a certeza de que tinha de experimentar um dos pratos que ela lá provou.

Ora, Lisboa ainda fica a uns quilómetros de distância e não consigo por-me lá em minutos. O que fazer? Pesquisar pela receita, comprar os ingredientes, se possível e cozinhar. Foi o que fiz e não podia ter feito melhor escolha!


Como se chama o fruto da minha gula? Tem um nome quase impronunciável: "S-P-A-N-A-K-O-P-I-T-A".

Encontrei uma receita no site do Continente e pareceu-me tão simples que não procurei outra. Ainda que não seja a certa, é, certamente, muito saborosa. Saí para comprar queijo fetta, espinafres e massa filo. Os demais ingredientes tinha em casa. De regresso, meti as mãos na massa, acrescentei as nozes que não são mencionadas na receita e deixei para trás o molho de vinho branco com tomate seco - confesso que me esqueci e não me fez assim tanta falta.


O resultado é qualquer coisa dos deuses! Pode não ser o original, mas que é bom e serviu para me matar o desejo, serviu! O aspecto? Modéstia à parte não podia ser melhor.

Acompanhei com salada de tomate temperada com azeite e oregãos. Não sei se é o acompanhamento certo, mas não deixa de ser mediterrânico. Para a próxima junto umas azeitonas pretas à salada


A vizinha grega já não mora aqui, caso contrário tinha levado a minha spanakopita para que a avaliasse. Vou, de certeza, repetir este manjar e, numa próxima ida à capital, espero conseguir provar o prato que tanto deliciou Lucrécia.


domingo, 2 de abril de 2023

Dia Internacional do Livro Infantil

Sou uma privilegiada. Eu e a minha irmã! 

Posso não ter tido as roupas mais fancy ou os brinquedos da moda mas nunca me faltou livros. Muitos. Dezenas. Centenas, se for contar os que estão nas estantes em casa dos meus pais sou capaz de me perder. 

Primeiro, as histórias foram-me lidas e relidas até à exaustão. Depois fui eu quem as leu. Mais tarde li-as à minha irmã e depois disso também ela as leu e releu. 

A maior parte destes livros já não está no mercado e suspeito que alguns - tendo em conta o que está a acontecer - já não seriam permitidos.

Como não me consegui ficar pela escrita deste artigo, fui espreitar uma das estantes que mencionei acima. Pensei que abria as portas, tirava umas fotos, revia umas histórias e me ficava por aqui. Mas não... Tive surpresas agradáveis e outras nem por isso - a humidade entrou aqui, o bicho apareceu e tive de pôr no lixo dois sacos de livros já irrecuperáveis. Que tristeza... 

Felizmente os mais bonitos estão intactos, ou quase. São tão diferentes do que há hoje em dia... Como é que sei? 

Porque continuo a comprar livros infantis, para mim e para oferecer. Há quem me chame a "tia dos livros", há quem me diga "já sabia que me trazias um livro" - como quem diz "já paravas com essa mania de oferecer livros". 

Há livros maravilhosos, porém há uma - ainda pequena - percentagem tão sem graça e tão politicamente correctos que não têm piadinha nenhuma.

Sugiro o seguinte exercício: ainda que mentalmente contem histórias como o Capuchinho Vermelho, a Cinderela, a Branca de Neve ou os Três Porquinhos sem a figura do vilão.
Já está? Como ficaram as histórias? Politicamente correctas? É que nem isso! É necessário a existência de um vilão para que a narrativa tenha sentido, seja engraçada e ensine alguma coisa. Quer queiramos quer não, vivemos numa sociedade em que há "os maus" e "os bons"... 

Todos os dias entram na minha casa e na minha vida dezenas de miúdos e, muitas vezes a conversa vai ter, inevitavelmente, aos livros.

Hábitos de leitura? Apenas dois ou três os têm.
Livros em casa? Pelo espanto com que olham para as minhas estantes e pelo que me dizem não devem ter muitos. Como diz a Georgina "criam muito pó"!!!
Pais que lêem? Também não.
País que lhes tenham contado histórias? Muito poucos...

O que lêem, então? Pouco nada mais do que o que a escola os obriga. Fazer resumos e apresentações? Vão ao Google e nem sequer verificam a veracidade dos factos: se está na net, é porque é verdade! #sqn

Com este panorama, como é que se cria o gosto pela leitura?
Os telemóveis e os jogos são muito mais apelativos. Alguém os iludiu criando a ideia de que aprendem com esses mesmos jogos.

Há ainda aqueles que se julgam escritores e vendem livros que nem para acender a lareira servem. Conhecem o Inspector Engrola? Não perdem nada! Mas se o virem aí por casa, abram-no, folheiem-no e vejam o que alguns dos vossos filhos andam a ler. Este é apenas um exemplo. Deve haver mais do género 

Muitos pais pedem-me milagres. Pedem-me que ponha os filhos a ler, que os faça gostar de ler, entre outros... De brincadeira, digo que milagres acontecem em Fátima e que o meu nome é Margarida. Impor-lhes a leitura apenas tem o efeito contrário.

O gosto pela leitura educa-se, não se ensina. E, como é sabido a educação começa no berço - ou antes. 

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

THE CONDUCTOR


Ver uma orquestra ao vivo tem qualquer coisa de fascinante. É, na realidade, mágico! 

Observo o maestro e fico indecisa sobre em que cena me focar: se naquela em que Merlin, no filme  A Espada era a Lei, com simples mas intricados gestos das mãos arruma a casa e a enfia dentro de uma mala ou se num teatro de marionetas em que os fios que as movem parecem ser uma extensão dos dedos do artista que as articula. Talvez me fique pela primeira, já que a varinha de Merlin faz com que todos os objectos se movimentem num harmonioso e delicado bailado.

E foi na expectativa deste espectáculo que ontem estive no Teatro das Figuras a assistir à estreia do maestro Martim Sousa Tavares à frente da Orquestra Clássica do Sul. Desde que, há meses, esta chegada foi anunciada que espero por este dia, por isso, no momento em que a data foi publicada tratei, imediatamente, da aquisição dos bilhetes. Ainda bem que o fiz, pois a sala esgotou! 

Uma sala cheia para ver um nome sonante. 

Um apelido de peso, sem dúvida! Pai, mãe e a inesquecível avó - que todos trazemos um pouco cá dentro - Sophia de Mello Breyner Andresen ❤️ A primeira vez que ouvi falar deste rapaz foi em 2011, pela boca da própria mãe - Laurinda Alves -, de uma forma discreta e com um brilho nos olhos, em conversas de ocasião, num escritório no Príncipe Real. Desde então, mais ou menos, tenho acompanhado o seu percurso pelos media e pelas redes sociais em que se move. É uma delícia ouvir as teclas do piano rendidas ao seu talento.


Ontem não o vi ao piano. Observei-o, de costas, a fazer magia e a lançar feitiços com os quais deixou, no fim, uma plateia de pé.

Confesso que pouco ou nada percebo de música, mas aos meus ouvidos pouco educados tudo me soou perfeito. Se para que uma orquestra seja boa é apenas necessário que se goste do que toca, então esta está muito além do que o superlativo de boa possa significar. Atrevo-me a dizer que foi magnifico. Memorável, até.

Vi e ouvi o concerto muda e de olhos postos de onde vinha o som. As cordas de um lado e de outro, o sopro mais atrás e a percussão quase escondida. De que gostei mais? É impossível destacar um elemento.

Não tenho dúvidas de que a sala cheia a um domingo à tarde se deveu ao peso do nome a comandar a orquestra, contudo o espectáculo não teria sido o mesmo sem aquele conjunto de músicos que encheram o palco - e se é grande aquele palco!!! Nem há um mês estive lá em cima, também, e conheço-o nas pontas dos pés.

E se não fosse a orquestra? Bem, tenho a certeza de que o maestro também teria dado espectáculo, pois é uma multifacetado, com uma cultura geral dantesca e com um sentido de humor desconcertante.

Martim, numa próxima oportunidade levo tarte de queijo e ficamos todos na conversa. Que tal? 

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Os filhos do digital

 “Tão inteligente! Tão pequenino e já sabe ir ao Youtube sozinho!”

“Criança esperta! Domina o telemóvel melhor que qualquer um de nós!”


Quem nunca ouviu ou disse algo do género? Quem nunca ficou boquiaberto com a destreza com que os mais jovens manuseiam as novas tecnologias? 


Imagem: Unsplash


Dê um passo em frente se nunca passou para a mão de um miúdo um telemóvel, ou tablet, para o entreter num momento de tédio, para pôr fim a uma birra, para que se calasse um pouco, para conseguir fazer algo sem ser incomodado? As hipóteses são imensas e, com certeza, haverá um elevado número de pessoas a sair do lugar onde está. Com medo, com culpa ou sem qualquer sentimento ou emoção, pois este é um gesto já irreflectido,  imediato e normalizado perante uma “situação de crise”.


É tudo muito interessante até ao momento em que, já desesperados, os pais não sabem o que fazer, pois os filhos estão viciados em redes sociais, em jogos, em amigos que não conhecem. Saem de casa, de manhã, já com os olhos fixos num qualquer ecrã portátil; na escola, caso não seja proibido, passam aulas e intervalos agarrados ao whatsapp, ao TikTok e outras aplicações onde o mais provável é estarem a trocar mensagens com o colega que está sentado mesmo ao lado - não, não estão a contar segredos, são conversas banais nas quais poderiam usar um sistema muito mais desenvolvido: o aparelho fonador do qual somos naturalmente dotados; ao final do dia, depois de aulas, explicações e mil e uma atividades extracurriculares, chegam a casa e enfiam-se no quarto, onde continuam com os dedos e os olhos esgazeados pelos aparelhos que têm à mão.


E assim vão crescendo.


Os fabricantes de jogos para as mais diversas consolas existentes no mercado alegam que os seus produtos fazem desenvolver capacidades e competências que, posteriormente, são facilmente concretizadas na vida real. Há, no entanto, estudos que provam o contrário. Em jogos de combate ou de velocidade, em que são necessárias destreza, rapidez de raciocínio e acção, tudo isso não passa de ficção. Nada disso é aplicável em circunstâncias reais. Saber jogar FIFA - um dos jogos mais populares entre os amantes de futebol - não significa que se saiba chutar uma bola. Super Mário, GTA, Clash of Clans Minecraft, Simms... Há tantos outros exemplos


São horas, dias, meses, anos de ecrã. Tempo que se perde, em que pouco se aprende e com consequências devastadoras a todos os níveis: cognitivo, emocional, social e físico. Tudo acontece demasiado rápido, não há tempo de espera, logo não há tédio, logo perde-se a oportunidade de descobrir o que fazer com o tempo que se tem entre mãos.


Há miúdos que têm os melhores amigos num computador sabe-se lá onde, com todos os riscos que isso possa acarretar, porém se se cruzarem na mesma sala são incapazes de trocar uma palavra ou até um olhar. Há outros tantos cuja caligrafia é imperceptível, porque não desenvolvem a motricidade fina. Há jovens incapazes de resolver uma soma ou uma multiplicação simples, porque a calculadora fá-lo por eles. E, por incrível que pareça, uma boa parte desta geração não sabe e não consegue fazer uma pesquisa no Google!


Responsáveis? Nós! Nós que inventámos os computadores, as consolas e os telefones espertos. Nós, que lhes colocamos nas mãos o primeiro ecrã antes de completarem um ano de idade. Nós, que cedemos a chantagens baratas em troca de um pouco de sossego. Nós, que caímos na conversa do bandido, acreditando que o último modelo da marca fará dos nossos pequenos uns génios. Nós, que compensamos a nossa ausência com tecnologia.


Acredito que nem tudo seja mau, mas para que não se torne pior, teremos de ser nós, adultos, a fazer alguma coisa. Adiar os ecrãs, criar outros estímulos e, consequentemente, adoptar hábitos diferentes. Fomentar tempo de qualidade com os mais novos e criar-lhes memórias - como dizia Johann Paul Richter “a memória é o único paraíso do qual não podemos ser expulsos”



NOTA: Este artigo foi originalmente publicado, na edição 52 da revista Justiça com A

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